domingo, 20 de março de 2011

Não há negocio à prova de desvalorização


Até mesmo os carros mais bem vistos perdem valor quase tanto quanto os "micos"

Adam Smith já dizia, há mais de 300 anos: existe o preço natural e o preço de mercado. O primeiro é o suficiente para se obter lucro. O segundo, é quanto o consumidor está disposto a pagar pelo produto. É isso que faz um Honda New Civic 0 km custar até R$ 15 mil a mais que um Nissan Sentra com o mesmo nível de equipamentos. Contudo, não se iluda: na hora da revenda, você sempre irá perder muito dinheiro, não importa o modelo escolhido. É, meu amigo, esqueça as histórias do vovô, que via seus veículos como investimentos. Carro agora é bem de consumo. 

Vamos às contas: quem comprou um Citroën C4 Pallas GLX com câmbio manual no fim de 2009 (como modelo 2010) pagou R$ 59 mil. Pesquisamos os preços em algumas lojas e vimos que, atualmente, esse carro usado é revendido, em média, por R$ 49 mil. Quem, na mesma época, apostou em um Corolla XEi 1.8 também manual, pagou R$ 68,5 mil. Hoje, o seu valor no mercado de usados é de aproximadamente R$ 59 mil. 

Em frios números percentuais, o sedã de origem japonesa depreciou menos em um ano de uso. Mas experimente subtrair o valor de venda do preço de compra. O dono do Toyota “perderá” R$ 9.500 em 12 meses. Já o dono do C4 Pallas, modelo menos afamado que o Corolla, perderá R$ 10 mil. Números próximos, que mostram não haver negócio à prova de desvalorização no setor, por mais bem visto que o carro seja no mercado.

Se o cliente pretende entregar o carro na concessionária, a situação piora, com avaliações sempre decepcionantes.

"Quando peço uma cotação do meu CR-V 2007 em alguma concessionária, seja essa Honda ou não, ouço mil histórias. A principal é sobre a chegada das versões fabricadas no México, que derrubaram os preços. Porém, quando fechei a compra, há três anos, questionei o vendedor sobre isso, pois sabia que os carros beneficiados pelo acordo de livre comércio estavam prestes a chegar às lojas. Ele disse que os modelos importados do Japão, como o meu, perderiam menos valor por serem mais completos. Não foi isso o que aconteceu, me sinto enganado", conta o funcionário público Ricardo McCormick, que pagou R$ 125 mil pelo CR-V e, três anos e 50 mil km rodados depois, não tem conseguido mais que R$ 55 mil nas lojas.

A grande derrocada dos preços aconteceu logo após a crise dos mercados, no fim de 2008. O segmento de veículos novos reagiu bem, graças à redução do IPI, mas quem vivia de vender usados passou por maus bocados. 

“Naquele momento, o mercado parou. Todos começaram a ceder para girar o estoque, e os preços despencaram. As concessionárias passavam seus carros para os revendedores independentes perdendo dinheiro. Agora, o setor de usados se estabilizou, e 2011 promete ser um bom ano. Mas a depreciação continuará alta. Está muito fácil comprar um carro novo, o que diminui o interesse pelos já rodados”, diz Marcos Gama, gerente de negócios da concessionária carioca Millenium Suzuki.
 
A dica para atenuar perdas é nunca aceitar a primeira oferta

E o que fazer para atenuar as perdas? A dica é nunca aceitar a primeira oferta. Foi esse o erro do dono de um Corolla XLi 2008 automático. O carro, com 28 mil km rodados e em ótimo estado, foi dado na troca por uma versão XEi 2011, com motor 2.0.

Na Toyota, o avaliador olhou o documento, disse que o carro estava realmente bom, mas não poderia pagar mais do que R$ 35 mil (o carro custou R$ 61 mil no início de 2008). A justificativa: aquela era uma versão rara e pouco procurada. E apesar de ter motor 1.8 Flex, airbag duplo, rodas de liga leve e bancos de couro, a avaliação seguiria o padrão dos XLi anteriores, sem nada disso. Proposta aceita, o cliente (que preferiu não se identificar) pagou R$ 40 mil de diferença e levou o novo Corolla para casa.

Ligamos para a concessionária no dia seguinte ao fechamento do negócio, perguntando sobre os Corolla da geração anterior disponíveis no estoque de usados. O XLi em questão estava à venda por R$ 43 mil, e o vendedor era só elogios ao carro. O que antes era um mico preto virou mosca branca, negociado com exagerada margem de lucro. Ao nosso incauto cliente, faltou calma. Perder dinheiro na troca é o esperado, mas não precisa perder tanto assim... 

por Eduardo Sodré (Revista Auto Esporte)

Nenhum comentário:

Postar um comentário