Chinesa JAC afirmou em comunicado que, por enquanto, seus modelos não terão preços afetados |
A decisão anunciada na última quinta-feira (15/09) pelo governo federal de aumentar a
alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos veículos
importados apresenta uma série de inconsistências e não deverá
beneficiar o consumidor final, de acordo com especialistas.
A
medida fere um dos princípios estabelecidos pela Organização Mundial do
Comércio (OMC). O advogado tributarista Fernando Lobo d’Eça explica que
a instituição proíbe a discriminação entre produtos nacionais e
importados. “A única taxa discriminatória permitida é a de importação”,
conta. Desta forma, o país poderá ser punido pela OMC caso ela julgue
que a ação brasileira signifique, a rigor, uma barreira aos importados. A
mesma organização define ainda que o teto para alíquotas de importação
de automóveis é de 35%.
Outro ponto sensível é o prazo que
o governo deu para que as montadoras fiquem livres da elevação do IPI e
se adaptem às novas exigências. Durante coletiva de imprensa realizada
na quinta-feira, em Brasília, o ministro da fazenda, Guido Mantega, anunciou uma
tolerância de até 60 dias. Hoje, no entanto, o vencimento divulgado no Diário Oficial da União
caiu para 45 dias. "A constituição determina que o prazo mínimo para
que as empresas se ajustem à nova resolução é de 90 dias. As montadoras
poderão recorrer ao judiciário para alargarem o prazo”, define Anderson
Stefani, advogado da Nasser Sociedade de Advogados.
Na
prática, o governo não elevou o IPI para os importados, mas sim para
todos os veículos novos vendidos no país, mas um desconto será concedido
aqueles com alto nível de nacionalização. Para isso, as empresas
deverão cumprir uma lista de exigências: produzir veículos com, no
mínimo, 65% das peças fabricadas no Brasil; ter 0,5% da receita bruta de
vendas revertidos em atividades de inovação, de pesquisa e de
desenvolvimento tecnológico no país e realizar no mínimo seis de 11
etapas de produção no no Brasil (confira a lista completa no fim da
reportagem).
Impacto no mercado
O governo alega que
a medida tem o objetivo de estimular a competitividade dos veículos
nacionais, valorizar a indústria brasileira e estabilizar os postos de
trabalho industriais no país. Para o economista Samy Dana, a nova regra
não deverá criar um cenário positivo para o consumidor. Isto porque, na
opinião do professor de finanças da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas,
a competitividade faz com que as empresas sejam obrigadas a reavaliar
seus preços para continuarem bem consolidadas no mercado. “Os preços dos
carros nacionais são elevadíssimos. As margens de lucro exercidas no
Brasil são muito altas. O que realmente não podemos permitir é que
carros produzidos no país sejam vendidos muito baratos em outros
países”, pondera Dana.
O consultor especial automotivo
Paulo Roberto Garbossa atenta para uma possível acomodação das
montadoras brasileiras na busca por aprimoramento e desenvolvimento dos
automóveis. Ele lembra que foi a partir da entrada de importados no país
que as montadoras nacionais começaram a se preocupar em oferecer itens
como direção hidráulica e trio elétrico em modelos mais populares.
“Antigamente, esses acessórios só estavam disponíveis em carros de luxo.
A competitividade com as marcas estrangeiras fez com que a indústria
brasileira despertasse para essa necessidade e começasse a brigar com os
importados”, conta.
Quem será afetado
A
alta do IPI não engloba automóveis vindos de países membros do Mercosul
e do México. Ainda não é possível definir como o mercado de fato será
impactado. Entretanto, é certo que montadoras orientais estão mais
sensíveis à mudança, como Chery, Lifan, Hafei e Kia. Estão isentas Toyota, Honda e Nissan, pois elas já têm fábricas em território nacional.
A JAC Motors do Brasil,
umas das principais afetadas, informou no fim da tarde da sexta-feira que os
carros que já estão em estoque nas lojas não terão preços alterados e
que mantém com os planos para a construção de uma fábrica no Brasil. "O
resultado desta nova alíquota de IPI na realidade equivale a um imposto
de importação de 85% para os automóveis importados com origem fora do
eixo do Mercosul e do México", critica a marca em comunicado, e ainda
reforça que a "medida protecionista do Governo é ainda mais severa do
que a mudança de alíquota de importação em 1995, quando subiu de 32%
para 70%".
“O mercado ainda está instável. Podemos dizer
que já apagamos o incêndio, mas agora é hora das montadoras avaliarem o
que sobrou para decidirem qual caminho tomar”, conclui Garbossa.
Tabela de alíquotas de IPI para automóveis | |||
Empresas habilitadas | Empresas não habilitadas | ||
Até 1.0 Flex Gasolina | 7% | 37% | |
Até 1.0 Gasolina | 7% | 37% | |
De 1.0 até 2.0 Flex | 11% | 41% | |
De 1.0 até 2.0 Gasolina | 13% | 43% | |
Acima de 2.0 Flex | 18% | 48% | |
Acima de 2.0 Gasolina | 15% | 55% |
por Aline Magalhães (Auto Esporte)
Nenhum comentário:
Postar um comentário