Cerca de 19% dos acidentes fatais no país acontecem com motoristas que dormem
Seja ao sair tarde do trabalho, ou ao pegar a estrada em uma viagem
cansativa, ou mesmo quando você precisa dirigir após algumas noites mal
dormidas... O sono pode atacar quando você estiver ao volante. Já estão
disponíveis no mercado tecnologias para impedir que o motorista cochile,
como o detector de fadiga, que identifica sinais de cansaço e emite um
alerta sonoro e visual pedindo para parar o carro e descansar. Se a
recomendação não for atendida, ele dispara um alarme. Indo além, em
automóveis importados, há detectores de sonolência que analisam até o
movimento dos olhos.
Embora esses aparatos – ainda
restritos – têm se mostrado eficientes, a máxima de que o motorista é o
principal responsável por sua segurança se mantém indiscutível, como
salienta o diretor técnico do Centro de Estudo Multidisciplinar em
Sonolência e Acidentes (Cemsa), Marco Túlio de Mello.
O especialista dá uma série de dicas para evitar o sono ao volante e
revela alguns dados de como essa situação é mais comum do que se
imagina. Será que você já bocejou ou mesmo “pescou” quando estava
dirigindo? Trate de acordar porque o assunto é sério e confira de olhos
bem abertos os conselhos a seguir.
Para começar, Mello
explica que dirigir com sono é perigoso porque diminui a capacidade de
concentração e de reflexo. Ele revela: "De 17% a 19% das mortes no
trânsito brasileiro, uma média de 7 mil por ano, ocorrem com pessoas que
dormem no volante. Na somatória dos acidentes de trânsito, de 29% a 32%
dos condutores caíram no sono enquanto dirigiam".
Há
vários fatores que induzem a sonolência. "O principal é o cansaço
depois de muitas horas acordado ou de muito tempo trabalhando. Além
disso, há uma relação com a monotonia que ocorre ao guiar o veículo. Em
percursos longos, exige-se muito do motorista. Uma vez cansado, ele fica
sonolento, tem menos atenção e pode comprometer a sua segurança e a dos
demais passageiros".
Ele aconselha: "Nunca dirija depois
de 19 horas acordado ou por mais de 9 horas seguidas, porque, assim
como um bêbado, você não estará em condições. O ideal é descansar a cada
2 horas". E ainda alerta: “Se a pessoa trabalhou por 9 horas, ela já
está suscetível a acidentes no trânsito. Por mais de 12, esse risco
duplica e por mais de 14, ele triplica”.
Outra
recomendação do especialista, que também dirige o Centro de Estudos em
Psicobiologia e Exercício (Cepe) e participa de pesquisas do Instituto
do Sono, é não pegar o carro entre 3h30 e 5h30 ou logo depois de
almoçar. “Esses são os momentos mais propensos a cair no sono”.
As
estradas, onde as pessoas passam mais horas guiando, o número de
acidentes é maior. “Isso se explica por causa da monotonia. Para
evitá-la, a sugestão é revezar a direção com outra pessoa que esteja
descansada”.
O mais grave, segundo ele, é que ninguém tem
condições de avaliar seu próprio sono. "Não existe um estágio de
sonolência que não ofereça perigo. Se sua vista começa a embaçar, está
na hora de encostar o veículo, lavar o rosto, tomar um café e descansar.
A maioria dos condutores que dormiram e se envolveram em acidentes
sequer se lembram de ter fechado os olhos".
Para ficar
acordado, motoristas colocam a saúde em xeque. "Alguns tomam
medicamentos, mas, em vez de se manterem em alerta, se prejudicam. O
efeito do remédio dura por pouco tempo. Quando ele acaba, o sono é
incontrolável". E se não bastasse, o diretor ainda revela: "Há casos de
pessoas que queimam cigarro no próprio corpo e até se batem para vencer a
sonolência".
No
geral, o que mais atinge população são os distúrbios do sono. "É muito
comum pacientes que não dormem bem e acordam cansados e com sonolência
por causa de distúrbios, como ronco, apnéia [suspensão momentânea da
respiração], insônia, bruxismo [ranger ou apertar dos dentes], chutar as
pernas, entre outros. Nesses casos, o tratamento é primordial para
eliminar o problema e minimizar os riscos de acidentes, inclusive no
trânsito".
E para encerrar, Mello assegura: “A transição
entre uma leve sonolência e dormir no volante é repentina e as
consequências podem ser gravíssimas. Abrir o vidro, aumentar o volume do
rádio ou outros truques do tipo não adiantam. O que vale são as
precauções do motorista para não colocar a sua vida em risco”.
por Camila Franco (Auto Esporte)
Nenhum comentário:
Postar um comentário